Vitamina B1

A vitamina B1, também denominada tiamina, é uma das vitaminas hidrossolúvel  do complexo B. Uma vez que o organismo armazena apenas quantidades reduzidas desta vitamina, é recomendada a sua ingestão diária, de forma a manter uma dieta equilibrada. A tiamina tem uma ação sinérgica com as restantes vitaminas do complexo B e por isso, estas vitaminas são mais potentes quando tomadas em conjunto do que isoladamente1,2.

A tiamina foi o primeiro membro do complexo vitamínico B a ser identificado surgindo de modo generalizado nos alimentos, mas na maioria dos casos em quantidades pequenas. A deficiência nesta vitamina conduz a uma doença conhecida como beribéri3,4.

Vitamina B1
Cognitivo
Coraçâo
Energia

Funções no organismo

A vitamina B1 tem um papel muito importante no metabolismo energético (colaborando na conversão dos hidratos de carbono em energia), no crescimento, desenvolvimento e função celular. Tem ainda um ligeiro efeito diurético . Esta vitamina é armazenada no fígado, mas apenas em pequenas quantidades. Algumas bactérias presentes no cólon sintetizam tiamina. No entanto, o seu contributo em termos nutricionais não está, ainda, completamente esclarecido2,4,5.

Fontes de vitamina B1

A tiamina surge de modo generalizado nos alimentos, mas na maioria dos casos em quantidades pequenas. A melhor fonte de tiamina é a levedura de cerveja seca. Outras fontes incluem cereais integrais, carne (a carne de porco é particularmente rica) e peixe1,2,6.

Alimento

Conteúdo em vitamina B1 (Tiamina)

Carne de porco

1,10 mg/100 g

Presunto

0,74 mg/100g

Aveia

0,55 mg/100g

Fígado de porco

0,43 mg/100g

Fígado de vaca

0,30 mg/100g

Ervilhas

0,32 mg/100 g

Centeio integral

0,30 mg/100 g

Espargos

0,18 mg/100 g

Salmão

0,17 mg/100 g

Ovos

0,12 mg/ 100g

Batatas

0,11 mg/100 g

Couve-flor

0,11 mg/100g

Fonte: Adaptado de Gerald F. Combs, Jr.The Vitamins_Fundamental_aspects_in_nutrition_and_health. Third edition. Elsevier AP.20086

Estabilidade

O calor da cozedura dos alimentos que contêm tiamina pode reduzir o seu teor nesta vitamina. Por exemplo o pão tem menos 20%-30% de tiamina do que os seus ingredientes crus. O processamento dos alimentos, como a refinação e pasteurização também conduz à perda de uma percentagem desta vitamina. Sendo a tiamina solúvel em água, a cozedura dos alimentos leva a uma perda substancial da vitamina para a água de cozedura que será desperdiçada caso essa água não seja aproveitada1,2.
Na água de descongelação de alimentos congelados também podemos encontrar quantidades desta vitamina. Assim, para preservar a tiamina, os alimentos devem ser cozinhados num recipiente coberto durante o mais curto espaço de tempo possível e não devem ser mergulhados em água ou aquecidos durante muito tempo1,2.
A tiamina é estável em meio ácido mas degrada-se em pH neutro ou alcalino4.

Carência em vitamina B1

De uma forma geral a carência em vitamina B1 caracteriza-se por falta de apetite, obstipação , sinais neurológicos e cardíacos, fraqueza muscular dos membros inferiores, depressão e falha de memória1,2,4.

Nos países desenvolvidos, as carências típicas são raras. As carências ligeiras podem, no entanto, ser de difícil diagnóstico uma vez que os sintomas são inespecíficos4.

A deficiência grave de vitamina B1 ou tiamina produz uma doença conhecida como beribéri. O termo beribéri deriva de uma palavra cingalesa, que significa fraqueza. É conhecida desde a antiguidade no Japão, estando também descrita nos primeiros tratados de medicina de origem chinesa4.

Esta doença tem especial incidência em países que utilizam o arroz branco como base da alimentação. No início do século XX, alguns cientistas descobriram a nítida relação entre a manifestação do beribéri e o regime alimentar baseado no arroz descascado3.

A história da descoberta da causa e cura desta doença está bem documentada na literatura médica. No século XIX, a marinha japonesa divulgou que o beribéri havia sido erradicado entre os marinheiros como resultado de uma dieta mais rica em carne, peixe e vegetais. Anteriormente, cerca de metade dos marinheiros contraíam a doença e muitos deles morriam3.

O beribéri é uma doença caracterizada por debilidade muscular, polineurite e paralisia e é observada essencialmente no Sudeste Asiático onde a alimentação é pouco variada e à base de produtos altamente refinados (arroz descascado e farinha). Isto pode também, dever-se ao consumo de peixe cru que contém tiaminase, uma enzima que destrói a tiamina de origem alimentar4,7.

Existem três tipos de beribéri:

  • beribéri seco (associado ao sistema nervoso) que se caracteriza por uma polineuropatia com grave perda de massa muscular3,4;
  • beribéri húmido (mais associado ao sistema cardiovascular) com edema , dor, subida da temperatura, anorexia, fraqueza muscular, confusão mental e por fim falha cardíaca3;
  • beribéri infantil, que ocorre principalmente em crianças dos dois aos seis meses, no qual os sintomas de vómitos, perda de apetite, convulsões, distensão abdominal, fezes esverdeadas e anorexia aparecem de repente e podem ser seguidos de morte por falha cardíaca3,4.

Outra doença que poderá aparecer associada à deficiência em tiamina é a síndrome de Wernicke-Korsakoff causada por uma combinação de fatores incluindo a ingestão inadequada (como nas situações em que o álcool substitui os alimentos), absorção diminuída e aumento das necessidades. Embora esteja associada ao álcool, a síndrome ocorre também, ocasionalmente, em pessoas que fazem jejum ou sofrem de vómitos crónicos1.

Esta síndrome pode ser caracterizada por duas fases: a primeira denominada encefalopatia de Wernicke em que ocorre neuropatia periférica , e a segunda, psicose de Korsakoff que se caracteriza por perda grave de memórias recentes, desorientação e confusão entre o real e o imaginário1.

Valor de Referência do Nutriente (VRN)1

Na tabela seguinte, estão descritas as doses diárias recomendadas consoante o sexo, a idade e algumas condições especiais (gravidez e aleitamento). No caso dos indivíduos fumadores, necessitam de mais 35mg/dia de vitamina C em relação aos indivíduos não fumadores.

 

Idade

Masculino (mg/dia)

Feminino (mg/dia)

Lactentes

0-6 meses*

0,2

0,2

 

 

7-12 meses*

0,3

0,3

Crianças

1-3 anos

0,5

0,5

 

 

4-8 anos

0,6

0,6

 

9-13 anos

0,9

0,9

 

Adolescentes

14-18 anos

1,2

1,0

Adultos

19 anos ou mais

1,2

1,1

Grávidas

A partir dos 14 anos

-

1,4

Mulheres a amamentar

A partir dos 14 anos

-

1,4

* IA: ingestão adequada: não existem estudos que permitam estabelecer o VRN, mas estes valores garantem uma nutrição adequada.

Utilidade terapêutica

A síndrome de Wernicke-Korsakoff está associada à deficiência em tiamina e envolve lesões no Sistema Nervoso. Doses elevadas de tiamina poderão melhorar a coordenação muscular e a confusão causadas pela doença8.

Os autores das guidelines da Federação Europeia das Sociedades Neurológicas para o diagnóstico, prevenção e tratamento da encefalopatia de Wernicke observaram que mesmo doses elevadas de tiamina, administradas por via oral, poderão não ser eficazes no aumento dos níveis de tiamina no sangue ou na cura da doença. Assim, recomendam 200 mg de tiamina, administrados preferencialmente pela via intravenosa, três vezes por dia, acompanhado de uma dieta equilibrada, até ao desaparecimento dos sinais e sintomas1.

A via parentérica é preferível em doentes de alto risco, que apresentem ataxia , confusão ou com história de alcoolismo crónico, uma vez que a suplementação oral pode não conduzir a níveis adequados de tiamina no sangue1.

Alguns cientistas colocaram a hipótese de que a tiamina também poderia ajudar na demência relacionada com a Doença de Alzheimer, no entanto a absorção de tiamina nos indivíduos idosos é reduzida e por isso são necessários mais estudos para fundamentar este hipótese8.

Precauções

Não é conhecida toxicidade relacionada com a vitamina B1 uma vez que qualquer excesso é eliminado pela urina e não é retido em quantidades significativas em nenhum órgão ou tecido. Em casos raros de excesso podem ocorrer tremores, herpes, edema , ansiedade, aceleração dos batimentos cardíacos e alergias2.

Nos casos de sobredosagem podem ainda ocorrer alterações na produção de hormonas da tiróide e insulina2.

Tanto os fumadores, como os consumidores de álcool ou de excesso de açúcar necessitam de mais vitamina B1, o que também é comum nas grávidas, mulheres a amamentar ou a tomar a pílula anticoncecional2.

Os medicamentos que causam náuseas e perda de apetite, aumento da função intestinal ou da excreção urinária, podem diminuir a disponibilidade da tiamina2,6.

Vários alimentos, tais como o café, o chá, o peixe cru, nozes de bétele e alguns cereais podem atuar como antagonistas6.

    • 1885 – O almirante japonês K. Takaki foca-se na causa nutricional associada a uma síndrome polineurítica dos consumidores de arroz.
    • 1890 – C. Eijkmann reproduz experimentalmente a neuropatia em aves, e cura a doença através da absorção de uma substância hidrossolúvel existente na cutícula do arroz.
    • 1901 – Grijns transmite a ideia que a ausência na dieta duma substância essencial ao metabolismo do sistema nervoso explica o desenvolvimento da polineurite nas aves e do beribéri.
    • 1910 – C. Funk isola da cutícula do arroz uma substância cristalina hidrossolúvel , que tem a propriedade de prevenir e curar o beribéri experimental.
    • 1936 – Determinação da estrutura e síntese da tiamina.
    • 1970-1985 – Conhecem-se algumas doenças hereditárias dependentes da tiamina.
      1. https://ods.od.nih.gov/factsheets/Thiamin-HealthProfessional/ - National Institutes of Health. 2016
      2. Mindell, E., Tudo sobre as vitaminas. Plátano. 1991 pags. 43-44; 218-220;255-258
      3. Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. 9ª edição. Secção XIV (62)
      4. Le Grusse, J.; Watier, B., Les vitamines – Données Biochimiques, nutritionneles et cliniques. Centre D'Etude et D'Information sur les Vitamines.1993. pags 121-144
      5. https://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/002401.htm - Medline Plus. 2015
      6. Gerald F. Combs, Jr. The Vitamins_Fundamental_aspects_in_nutrition_and_health. Third edition.Elsevier AP.2008.
      7. Vitaminas: Uma Actualização, Roche Consumer Health, pags 16-17
      8. http://umm.edu/health/medical/altmed/supplement/vitamin-b1-thiamine - University of Maryland Medical Center. 2015

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