Vitaminas e Minerais
Cálcio
O cálcio é o mineral mais abundante existente no corpo humano, a maior parte encontra-se nos ossos e dentes1.
A ingestão de cálcio é um fator crítico para manter os ossos saudáveis. Os níveis de cálcio no sangue e no fluido extracelular devem estar sempre dentro de uma margem estreita de concentrações. Caso a ingestão deste mineral não seja adequada, a reabsorção óssea (desmineralização) é estimulada2.
O cálcio desempenha uma função estrutural nos ossos e nos dentes. Além disso, ele atua juntamente com a vitamina K, no sistema circulatório, auxiliando na coagulação do sangue e possui grande importância no estabelecimento do equilíbrio juntamente com o fósforo.
Os cristais de hidroxiapatite presentes no osso contêm grandes quantidades de cálcio, fósforo e oxigénio. Os osteoclastos têm como função a reabsorção óssea, e os osteoblastos sintetizam o osso novo, de modo a substituir a estrutura óssea que foi reabsorvida. Durante o crescimento, a formação óssea supera a reabsorção óssea. Pelo contrário, a osteoporose resulta numa reabsorção óssea superior à formação óssea2.
Os níveis de cálcio são controlados pelas glândulas paratiróides. Quando se encontram diminuídos as glândulas paratiróides produzem uma hormona denominada paratiróideia. O aumento da hormona paratiróideia, leva a uma rápida redução dos níveis de excreção de cálcio e por conseguinte a um aumento da excreção urinária de fósforo. Esta condição promove a reabsorção óssea, resultando na libertação de cálcio e fosfato do osso. A hormona paratiróideia também estimula a conversão de vitamina D na sua forma ativa nos rins, o que aumenta a absorção de cálcio e fósforo. Para além disso, a forma ativa da vitamina D estimula os osteoclastos e aumenta a reabsorção de cálcio nos rins2.
Quando os níveis normais de cálcio são repostos, as glândulas paratiróides deixam de produzir hormona paratiróideia2.
Para além da função estrutural nos ossos, o cálcio também atua na coagulação sanguínea, na transmissão dos impulsos nervosos, na contração e relaxamento dos músculos, na vasoconstrição e vasodilatação, sinalização intracelular, libertação de hormonas e manutenção do ritmo cardíaco1,3.
A ingestão de cálcio contribui ainda para o normal metabolismo produtor de energia, para o normal funcionamento das enzimas digestivas, para o processo de divisão e especialização celular4.
Há muitos produtos alimentares que contêm cálcio mas os laticínios são a melhor fonte1.
Outras fontes são os vegetais de folha verde como os brócolos, couves e nabos, amêndoas, sementes de girassol, sardinhas, salmão, nozes e feijões secos1,5.
Algumas fibras e alimentos com ácido oxálico (couve, batata doce, feijão, espinafres e ruibarbo) ou ácido fítico (farelo de trigo, nozes, sementes e feijão) determinam uma absorção de cálcio reduzida uma vez que estes ácidos formam um complexo com o cálcio e evitam a sua absorção1,2.
Alimento |
Conteúdo em cálcio |
Iogurte |
150mg/ 100g |
Leite |
120mg/ 100g |
Requeijão |
100mg/ 100 g |
Mexilhão |
100mg/ 100g |
Frutos secos |
60mg/100 g |
Ovos |
30mg/ 100g |
Pão branco |
15mg/100g |
Carne |
10mg/100 g |
Adaptado de: Minerals Basics. Manual. Roche Consumer Health. 19986
Para perder o menor teor de cálcio dos alimentos, estes devem ser cozinhados com um mínimo de água possível e durante o menor tempo possível1.
Os ossos servem como reservatórios que libertam cálcio para o sangue quando os níveis de cálcio ingeridos não são os adequados. No entanto, nos casos em que a necessidade em cálcio aumenta (crescimento, reparação de tecidos, gravidez ou amamentação) a mucosa intestinal também se adapta de modo a aumentar a eficiência na absorção deste mineral6.
A hipocalcémia normalmente está relacionada com uma função alterada da paratiróide. Se não for esta a causa, poderá estar relacionada com insuficiência renal crónica, deficiência em vitamina D, menopausa, intolerância à lactose, dieta vegetariana, ou baixos níveis de magnésio no sangue, muitas vezes relacionado com o alcoolismo2,3.
Os sintomas de hipocalcémia incluem: dormência e formigueiro nos dedos, cãibras musculares, convulsões, letargia, falta de apetite, alterações no ritmo cardíaco e se não for tratada pode conduzir à morte. A longo prazo pode ocorrer osteopénia que conduz a osteoporose3.
Existem alguns fatores que poderão influenciar os níveis de cálcio no sangue, como por exemplo a quantidade de vitamina D que é essencial para a reabsorção de cálcio2.
No caso do sódio, este é o maior determinante para as perdas de cálcio através da urina. A ingestão de doses elevadas de sódio resulta na excreção de doses elevadas de cálcio, pela urina2.
A ingestão de cafeína também aumenta a excreção de cálcio e reduz a sua absorção3.
Por sua vez, o consumo de álcool reduz a absorção de cálcio e inibe as enzimas do fígado que convertem a vitamina D na sua forma ativa3.
|
Idade |
Masculino (mg/dia) |
Feminino (mg/dia) |
Lactentes |
0-6 meses* |
200 |
200 |
7-12 meses* |
260 |
260 |
|
Crianças |
1-3 anos |
700 |
700 |
4-8 anos |
1000 |
1000 |
|
9-13 anos |
1300 |
1300 |
|
Adolescentes |
14-18 anos |
1300 |
1300 |
Adultos |
19- 50 anos |
1000 |
1000 |
51-70 anos |
1000 |
1200 |
|
A partir dos 71 anos |
1200 |
1200 |
|
Grávidas |
14-18 anos |
- |
1300 |
A partir dos 19 anos |
- |
1000 |
|
Mulheres a amamentar |
14-18 anos |
- |
1300 |
A partir dos 19 anos |
- |
1000 |
*IA: ingestão adequada: não existem estudos que permitam estabelecer o VRN, mas estes valores garantem uma nutrição adequada.
A suplementação com cálcio reduz alguns problemas gestacionais, nomeadamente o risco de desenvolvimento de problemas hipertensivos durante a gravidez, os quais estão associados a um número significativo de mortes por parte das mães e do nascimento de bebés prematuros7.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), em populações em que a ingestão de cálcio é reduzida, a suplementação é recomendada no período de gravidez, de modo a prevenir o estado de pré-eclâmpsia (condição médica em que a mulher grávida desenvolve hipertensão e proteinúria, normalmente após a 20ª semana de gestação), particularmente em mulheres com elevado risco de desenvolver hipertensão (situação que será prognosticada pelo médico)7.
É recomendada uma dose diária de 1,5g a 2g de cálcio elementar (1,5g de cálcio elementar corresponde a 2,5g de carbonato de cálcio e 4g de citrato de cálcio) dividida em três doses, preferencialmente tomadas à hora da refeição, desde a 20ª semana de gestação até ao final da gravidez. Esta situação deverá ser rigorosamente monitorizada pelo médico7.
O hiperparatiroidismo é a causa mais comum de hipercalcémia2.
A ingestão de doses elevadas de cálcio durante algum tempo aumenta o risco de formação de pedra nos rins. Para além disso, doses elevadas de cálcio podem desencadear insuficiência renal, calcificação dos tecidos moles e vasculares e hipercalciúria1,3.
Parte do cálcio absorvido é eliminada pela urina, fezes e suor, o que pode ser afetado pela ingestão de sódio (a ingestão de níveis altos de sódio aumenta a excreção de cálcio), consumo de cafeína (aumenta a excreção de cálcio) e álcool (reduz a absorção de cálcio)3.
O cálcio diminui a absorção de antibióticos, bifosfonatos e da levotiroxina, por isso a toma destes medicamentos e de suplementos de cálcio deve ser separada por um intervalo de 2 horas2.
Os antagonistas dos recetores H2 e os inibidores da bomba de protões diminuem a absorção de carbonato de cálcio e fosfato de cálcio. Sabe-se ainda que os glucocorticoides também diminuem a absorção de cálcio2.
Os diuréticos, tal como as tiazidas, aumentam o risco de hipercalcémia por aumento da reabsorção de cálcio nos rins2.
Doses elevadas de cálcio em pessoas que tomam digoxina aumenta a probabilidade de alterações no ritmo cardíaco, por isso é preciso precaução nesta associação.2
O cálcio será mais eficaz se for acompanhado das vitaminas A, C e D, ferro, magnésio e fósforo5.
- https://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/002412.htm - Medline Plus. 2015
- http://lpi.oregonstate.edu/mic/minerals/calcium - Linus Pauling Institute. 2015
- https://ods.od.nih.gov/factsheets/Calcium-HealthProfessional/ - National Institutes of Health. 2016
- Regulamento (UE) N.º 432/2012 da Comissão, de 16 de Maio de 2012
- Mindell, E., Tudo sobre as vitaminas. Plátano. 1991 pags 76-78; 218-220;255-258
- Minerals Basics. Manual. Roche Consumer Health. 1998
- http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/85120/1/9789241505376_eng.pdf?ua=1 - Guideline: Calcium supplementation in pregnant women. World Health Organization. 2013