Funções no organismo
A vitamina D promove a absorção de cálcio no intestino e contribui para a manutenção das concentrações séricas ; normais de cálcio e fosfato de modo a estabelecer uma mineralização óssea normal e prevenir episódios de tetania hipocalcémica . Esta vitamina é necessária ao crescimento e remodelação ósseos, uma vez que sem ela os ossos podem ficar finos e quebradiços1.
Assim, a vitamina D ajuda a prevenir o raquitismo nas crianças e a osteomalacia nos adultos, juntamente com o cálcio ajuda também a prevenir a osteoporose1.
Para além disso, a vitamina D também regula a excreção de fosfato inorgânico pelos rins e a secreção da hormona paratiroideia, contribui para a modulação do crescimento celular e neuromuscular, para a função imunitária e redução da inflamação, sendo essencial para a homeostase 1,3,4.
Existem muitos genes que codificam proteínas reguladoras da proliferação celular, diferenciação e apoptose que são modulados em parte pela vitamina D1.
A ingestão de vitamina D contribui para a normal absorção/utilização do cálcio e do fósforo e para os níveis normais de cálcio no sangue. Contribui ainda para a manutenção do normal funcionamento muscular, ossos e dentes normais, para o normal funcionamento do sistema imunitário e para o processo de divisão celular 5.
Fontes de vitamina D
A incidência da radiação solar ultravioleta B na pele estimula a produção de vitamina D (principalmente na sua forma D3). Passar algum tempo no exterior, duas a três vezes por semana, geralmente é suficiente para crianças e jovens adultos sintetizarem a vitamina D necessária para prevenir a deficiência nesta vitamina. Deve-se ter em conta que, com o avançar da idade, a capacidade para sintetizar a vitamina D através da exposição solar diminui, e que as pessoas com pele mais escura sintetizam menos do que as que têm pele mais clara3.
A vitamina D na forma D3 está presente apenas nos alimentos de origem animal enquanto a vitamina D na forma D2 está predominantemente presente nos alimentos de origem vegetal. Os alimentos mais ricos são os peixes gordos (ex. sardinhas e salmão), gema de ovo, fígado, manteiga e matéria gorda do leite1,6.
Para além disso, já existem alguns alimentos enriquecidos com adição de vitamina D, tal como leite e cereais6.
Alimento |
Conteúdo em vitamina D |
Sardinhas |
37,5µg/100g |
Salmão |
5,5-11 µg/100g |
Camarão |
3,75 µg/100g |
Natas |
1,25 µg/100g |
Manteiga |
0,875 µg/100g |
Ovo |
0,7 µg/100g |
Queijo |
0,3 µg/100g |
Fonte: Adaptado de Gerald F. Combs, Jr. The Vitamins Fundamental aspects in nutrition and health. Third edition. Elsevier AP. 20087
Estabilidade
A vitamina D é degradada rapidamente pela luz, oxigénio e ácidos. Temperaturas elevadas, acima dos 100ºC, levam a uma transformação irreversível desta vitamina2,8.
Carência em vitamina D
A carência em vitamina D pode ocorrer quando a sua ingestão é inferior aos valores recomendados (pode estar associado a alergias ao leite, intolerância à lactose ou vegetarianismo), a exposição solar é limitada, os rins não conseguem fazer a conversão na forma ativa, ou a absorção no trato gastrointestinal não é suficiente1.
A concentração sérica de 25(OH)D é o melhor marcador para revelar os níveis de vitamina D no organismo, uma vez que reflete a produção cutânea e a quantidade que é obtida através dos alimentos e suplementos, e tem um tempo de semi-vida de 15 dias em circulação1.
O risco de deficiência de vitamina D é mais elevado entre as crianças e os idosos, especialmente aqueles com baixa exposição à luz solar. Em bebés prematuros e bebés com baixo peso, as funções hepáticas e renais podem ser inadequadas para um metabolismo ótimo da vitamina D e o leite humano também é uma má fonte desta vitamina. Nos idosos as restrições alimentares são um fator de risco adicional2.
Pessoas com doenças que afetam o fígado, os rins e a glândula tiróide, ou que afetam a absorção de gorduras, os vegetarianos, os alcoólicos e os epiléticos em terapia de longa duração com anticonvulsivantes, bem como as pessoas que estão retidas em casa, têm um maior risco de deficiência em vitamina D2.
A carência nesta vitamina pode conduzir a raquitismo nas crianças e a osteomalacia e osteoporose nos adultos. No caso do raquitismo, aparece principalmente entre os 6 meses e os 2 anos de idade, e caracteriza-se por uma falha na mineralização do tecido ósseo, resultando em ossos frágeis e deformações do esqueleto.1,2
No caso da osteomalacia, tem como consequência ossos fracos, resultando em dor e fraqueza muscular, no entanto estes sintomas não aparecem logo numa fase inicial1.
Valor de Referência do Nutriente (VRN)1
Idade |
Masculino (µg/dia) |
Feminino (µg/dia) |
|
Lactentes |
0-6 meses* |
10 |
10 |
7-12 meses* |
10 |
10 |
|
Crianças |
1-3 anos |
15 |
15 |
4-8 anos |
15 |
15 |
|
9-13 anos |
15 |
15 |
|
Adolescentes |
14-18 anos |
15 |
15 |
Adultos |
19-70 anos |
15 |
15 |
Idosos |
A partir dos 70 anos |
20 |
20 |
Grávidas |
Até aos 18 anos |
- |
15 |
19 anos ou mais |
- |
15 |
|
Mulheres a amamentar |
Até aos 18 anos |
- |
15 |
19 anos ou mais |
- |
15 |
*IA: ingestão adequada: não existem estudos que permitam estabelecer o VRN, mas estes valores garantem uma nutrição adequada.
Utilidade terapêutica
Suplementos de vitamina D3 de pelo menos 800 UI/dia podem ser úteis na redução da perda óssea e da taxa de fraturas em idosos. Para que a suplementação em vitamina D3 seja eficaz para preservar a saúde óssea, devem ser ingeridas quantidades de cálcio na ordem dos 1000-1200mg3.
De forma a prevenir o raquitismo, é aconselhada a ingestão de vitamina D em crianças. No entanto, não existe consenso em relação às quantidades adequadas, por exemplo, no Canadá, recomenda-se que os bebés devem ingerir 400UI/dia de vitamina D e aumentar para 800UI/dia nos meses de Inverno no caso dos bebés que vivem no norte do país. A Sociedade Endócrina dos Estados Unidos recomenda que os bebés e crianças devem ingerir 400 a 600UI/dia de vitamina D e que poderão precisar de 1000UI por dia para obter o melhor benefício9.
Um outro ponto importante é que a utilização tópica de análogos da vitamina D está aprovada para o tratamento da psoríase3.
Precauções
A intoxicação por vitamina D normalmente está associada à ingestão de doses elevadas através dos suplementos, não costuma estar associada nem aos alimentos nem à exposição solar excessiva. Pode ter como consequência o aparecimento de alguns efeitos adversos graves como a hipercalcemia (com a consequente deposição deste mineral nos rins, coração, pulmões e vasos sanguíneos), casos de confusão e desorientação, náuseas, vómitos, obstipação , falta de apetite, anorexia, fraqueza, poliúria e arritmias1,6.
A vitamina D e os seus derivados estão contraindicados em casos de hipercalcémia , hipercalciúria , e litíase cálcica 2.
Alguns medicamentos podem aumentar os níveis de vitamina D, como é o caso dos estrogénios e da isoniazida . Outros podem diminuir os níveis de vitamina D no organismo, como os anticonvulsivantes ( fenobarbital e fenitoína ), orlistato , ; rifampicina e colestiramina 1,10.
O calcipotriol e a digoxina juntamente com suplementos de vitamina D podem aumentar os níveis de cálcio no sangue para valores perigosos, e por isso é preciso ter atenção a esta associação10.
Os antagonistas dos canais de cálcio como a nifedipina , verapamilo , diltiazem e amlodipina , podem sofrer alterações quando tomados juntamente com suplementos de vitamina D10.
Os corticosteroides reduzem a absorção de cálcio e por isso diminuem o metabolismo da vitamina D, o que pode contribuir para alterações ósseas e desenvolvimento de osteoporose1.
A vitamina D pode ainda reduzir a absorção de estatinas , diminuindo o seu efeito10.
- 1645-1650 – Descrição do raquitismo por médicos ingleses.
- 1782 – Dale-Percival descobre o poder anti-raquítico do óleo de fígado de bacalhau.
- 1865 – Perceção da importância dos raios solares e identificação da osteomalacia como a forma adulta do raquitismo.
- 1921 – E. Mellanby reproduz experimentalmente o raquitismo e cura-o com óleo de fígado de bacalhau. Avança a ideia de um fator nutricional lipossolúvel que é confundido com a vitamina A.
- 1922 – E. V. McCollum demonstra a existência de uma nova vitamina diferente da vitamina A, a que dá o nome de vitamina D.
- 1924-1925 – Alguns cientistas colocam em evidência a existência de outra vitamina D, produzida ao nível da pele pela ação dos raios ultravioleta.
- 1932 e 1936 – As substâncias que correspondem à vitamina D são isoladas.
- 1959 – É sintetizada a vitamina D.
- 1964 – D. Norman descobre 3 metabolitos da vitamina D que também têm atividade anti-raquítica.
- 1971 – É estabelecida a estrutura do calcitriol.
- 1980 – São descobertos recetores da vitamina D nas células de vários órgãos.
- https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminD-HealthProfessional/ - US department of Health & Human services; National institutes of Health. 2016
- Le Grusse, J.; Watier, B., Les vitamines – Données Biochimiques, nutritionneles et cliniques. Centre D'Etude et D'Information sur les Vitamines.1993 pags. 57-79
- http://lpi.oregonstate.edu/mic/vitamins/vitamin-D - Linus Pauling Institute. 2014
- Raber, Dr.F., PM/MED-T, Training Manual Vitamins. Basel. February 1990. Pags 71-75
- Regulamento (UE) N.º 432/2012 da Comissão, de 16 de Maio de 2012
- https://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/002405.htm - Medline Plus. 2015
- Gerald F. Combs, Jr. The Vitamins Fundamental aspects in nutrition and health. Third edition. Elsevier AP. 2008
- Jakobsen, J., Knuthsen, P., Stability of vitamin D in foodstuffs during cooking. Food Chemistry 148 (2014) 170–175
- https://www.vitamindcouncil.org/health-conditions/rickets/ - Vitamin D council. 2014
- http://umm.edu/health/medical/altmed/supplement/vitamin-d - University of Maryland Medical Center. 2016